quarta-feira, 10 de junho de 2015

Até quando, hein?

Olhe, se tem acontecimento que me faz mais reflexiva, crítica e intolerante, este se chama gravidez!
Quem me conhece sabe que não curto essa fase. Não acho nada graciosa, pelo contrário. Acho que ficamos desengonçadas pra caramba e o pior, perdemos a autoridade sobre nossos corpos e nossas vontades. Isso mexe demais comigo. Mas venho hoje, depois de pensar um bocado no caso, falar de algo específico. Me encontro aos 27 anos, terei meu segundo filho, sendo esta minha terceira gestação e diante do processo subjetivo punk em que entro toda vez, decido que não quero mais ter filhos. Entro em contato com minha médica e ela quem decide: "Não faço laqueadura em você. Você é jovem e só tem dois."
Ora, eu quem deveria pensar sobre isso, não? Mas meu marido pode. Ele pode decidir sobre sua vontade de ter mais filhos ou não aos 29, pode fazer vasectomia e ela pode ser reversível sem causar alterações hormonais pro resto da vida dele. Me pergunto se estas diferenças seriam apenas orgânicas ou mais uma vez impostas por um sistema onde o patriarcado prevalece.

Juro que esta não será uma das discussões vagas sobre feminismo que vejo na internet. Só quero com isso mostrar o quanto estamos distantes de sermos livres para tomarmos decisões sérias acerca de nossas vidas, de nosso futuro. Conseguimos muito, eu sei. E isso deve ser relembrado e celebrado sim. Mas busquemos mais! Que a gente consiga que não mais o Estado decida sobre nossos sagrados corpos, que a luta se faça para além de nossa liberdade sexual já almejada (viva!). Eu quero mais. Quero que minhas amigas "feministas" não pensem que feminismo é ir trabalhar fora, like a man, mas de batom e salto alto. Não quero que se posicionem contra outras mulheres por causa da roupa de "piriguete". Quero que nos unamos e entendamos de vez que feminismo não se trata de superioridade sobre os homens ou outras mulheres, mas sim sobre equidade! Justiça e imparcialidade! Respeito às escolhas tomadas por toda e qualquer mulher. Afinal, foi por isso que tanto já se lutou.
Quero poder decidir de forma tranquila, sem polêmica e com consciência sobre o meu corpo. Li um depoimento de Marta Suplicy sobre ser mãe de seus dois filhos e concordo com ela quando ela diz que meninos devem ser educados e criados também pelos seus pais, pois enquanto a maternagem for tratado como sendo uma "habilidade feminina", mais distantes estaremos da redução dessa diferença de direitos entre homens e mulheres.
Vai ver por isso o Universo me mandou dois homens! Meu desafio será torná-los livres em suas escolhas e que achem natural que a mesma liberdade seja prerrogativa de mulheres e homens de sua época. Aceito o desafio! ;)

terça-feira, 2 de junho de 2015


Tom,

Há um bom tempo tenho tentado te escrever algo diante das sensações e reflexões que tenho tido desde que você nasceu um ano atrás. Mas não consigo. Não consigo porque, com sua chegada, foi-se embora minha eloquência, minha coerência. Busquei-as por um tempo, me angustiei por não tê-las achado, me estranhei e depois compreendi o motivo de ter perdido esse tanto. Porque finalmente saí do ego. Graças a você. Achei que conseguiria isso com meditação, mas nem!

Você quem faz minhas palavras saírem hoje diretamente do coração. Você quem me ensina a ter uma vida mais à toa. Sim, eu dentro do meu machismo velado, antes de você, achava que "só" te cuidar era tarefa pequena. Achava que cuidar de nossa casa era pouco, diante do que me era cobrado socialmente. Eu antes tão sabida, sensata e resolvida, descubro um universo onde o tédio não tem vez, onde a coerência faz-se desnecessária. O que pude fazer? Me render ao que você me trouxe e me trará. Me render à vida sem datas ou relógios, ao seu tempo e não ao meu, ao cuidado destinado ao nosso lar feito com prazer, porque lá é uma delícia de explorar e porque é onde quero estar até quando der. Só isso. Sem espera, nem ansiedades.

Maternar você, e agora seu irmão, sem dúvida foi a abertura pra uma Rebecca nova, que se buscou muito em livros e títulos e rótulos, mas que agora faz tudo isso por puro prazer em partilhar, principalmente com vocês que são minha missão. Essa aqui é grata por perceber que tua chegada a transformou.

Um ano. Não teremos festão. Teremos outras vivências pra te incluir com intensidade. Temos a certeza em nosso coração que estaremos soltando no mundo homens de bem, com prazer e confiança no que há dentro de cada um, no tempo certo.

Enquanto isso, fica aqui colado com mainha, por favor! Feliz vida, pinguinho!

Que amor tão grande!

Tua mãe.

R.