segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Lembranças que um bebê não terá

"Lembro do dia em que eu completei cinco meses de vida. Costumávamos ficar, minha mãe e eu, muito tempo sozinhos em casa. Meu pai sempre chegava à noite.
De manhã, quando eu acordava, minha mãe me recebia com muitos "bom dia", muitos beijos e cheirava minha boca afirmando que era o "melhor bafo que havia". Nesse dia não foi diferente.

Enquanto ela arrumava a casa, tocava Pink Floyd na TV. Sempre tocava algo na TV. Acho que eu gostava. Nossa casa sempre cheirava a canela ou sândalo, não sei. Tudo foi normal naquele dia. Eu ficava no carrinho, na entrada da cozinha, enquanto minha mãe lavava a louça, fazia seu café servido direto na caneca vermelha. E eu observava tudo com o som ao fundo. Eu ria do jeito dela. Ela não parava! Terminava uma coisa, já ia fazendo outra!

Veio a hora do banho, depois hidratante, depois massagem com um oleozinho lá...eu curtia aquilo. Soneca? Eu e ela. Hora da fruta? Eu e ela. Friends na TV? Eu e ela. As leituras dela? Eu acompanhava.

A noite era do meu pai. Quando ele chegava a diversão era certa! Risada, cócegas, turbulência...tudo muito bom! De madrugada, meu pai sempre vinha conferir se eu tava respirando ou vinha colocar de volta minha chupeta caída, enquanto eu chorava. Ele sempre preparava minha mamadeira, mas nunca me dava porque achava que não levava "jeito".

Lembro dos dois sempre e beijarem e se abraçarem perto de mim. Como se quisessem me passar algo. Talvez o amor que sentiam um pelo outro e por mim. Acho que captei a mensagem, lembrando agora dos rostos dos dois próximos do meu.

E naquele dia, tudo foi fatidicamente igual. E mágico."

PS: Para Tom, nos seus 5 meses de vida. Em três de novembro de dois mil e catorze.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Carta ao Tom

27 de maio de 2014

Tom,

Faltam seis dias pra te ter conosco. Ando muito ansiosa. Sei que quando estiveres aqui não terei palavras pra descrever o momento, então quero aproveitar esse sentimento de agora. Vou começar pela escolha de seu nome. Digo às pessoas que queria um nome curto e significativo. E só. Não curti me explicar diante da polêmica causada pela escolha de seu nome.
Sua mãe é bem polêmica, se acostume. Mas na verdade, pra mim, tem um sentido enorme, expansivo. Um tom a mais, uma mudança, uma nova cor, nova melodia. Foi isso que minha vida ganhou quando ouvi pela primeira vez seus batimentos cardíacos. Não podia ser diferente. Não podia escolher outro nome.

Não espere escolhas comuns vindas de seu pai e eu. E nós esperamos que você curta essa irreverência. O mundo é legal e pode ser bem melhor se dermos uma pequena ajuda pra isso. Como por exemplo, se escolhermos amigos leais, artes variadas, músicas que inspirem, momentos que acrescentem, literatura, gargalhadas, etc. Serás desse mundo, não apenas meu e de seu pai. Terás muito que explorar. Prefira ser do bem, mas não um conformista. Nem tudo são flores, mas nem ligue. A vivência de uma vida interessante vale mais que a “certezas” por aqui impostas. Não precisa “ser teso”.

Não sei quais são as escolhas certas. Não poderei te ajudar nisso. Posso te ajudar a ter coragem de viver. Posso recuar quando sentir insegurança, mas se perceber que é o que quer, te incentivo.
Posso querer mil coisas pra ti. Elas não interessam muito agora. Pois o que quero mais é te ver livre, aberto, sorrindo, valorizando o essencial, abraçando, argumentando...chega!

Veremos com o que vais chegar de teu. Meu filho, desde já, seja bem-vindo.
Já és imensamente amado por tantos.

Nos vemos em breve.




terça-feira, 11 de março de 2014

A casa da minha mãe

Passei um mês na casa da minha mãe, pois quebrei o pé direito em plena gestação de seis meses.
Motivos divinas? Sabe-se lá.
Sei que foi um período de muita observação e reflexão.
Entre as váaaarias coisas que vivi em pensamento, uma delas foi o próprio ambiente em que estava.
Ei-lo:
A casa da minha mãe tem vida em todos os cômodos da casa.
Tem gente o tempo todo. Visitas legais e abusadas demais. Comida pra todo mundo e café várias horas no dia. Tem som ligado em lugares diferentes. Tem cachorro, gata que dá cria e passarinho cantador.
Tem crianças, brinquedos espalhados e música de bebê.
Tem roseira, coqueiro e bananeira. Pé de acerola, de mamão e outras frutas.
Tem suco delas misturadas e muito amor no seu preparo.
Tem briga de irmãos, encrenca de marido e mulher depois de tanto tempo de convivência.
Um e outro que dá pitaco, sempre querendo o bem, às vezes querendo demais da conta e esquecendo de ajudar. Não é fácil, mas isso é vida.
Depois o sentimento fala mais alto e vem o pedido de desculpa e o "te amo" volta a aparecer no final da ligação.
As peculiaridades que nos compõem formam o magnetismo presente na casa da minha mãe. Chega lá pra tu ver. Não tem quem não goste. Tudo do jeito que o deus dela quer.

Na verdade é a casa dos meus pais. Mas pai, desculpe, quem dá o charme e a energia vital é mãe.

                                 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre os meus amigos

Os meus amigos são os melhores.
Tenho amigos feitos 20 anos atrás, 15 anos atrás, 8 anos atrás, poucos anos atrás.
São poucos os meus amigos, mas muito singulares.
As minhas amigas não discutem sapatos ou marcas de roupas ou última moda, não ligam pra isso. As minhas amigas preferem tomar cerveja e dar risada. Os meus amigos não usam Instagram ou Facebook pra dizer que estão comigo, eles fazem essa questão offline. Não precisamos de lembretes de aniversário pra lembrar um do outro nos seus respectivos dias comemorados há anos a fio.
Não nos expomos, somos discretos em nossos prazeres. E não por chatice, mas simplesmente por falta de interesse nesse mundo tão fútil como anda.
Não sabemos o que andam discutindo os mais cults. A gente se entedia.
Não temos rótulos, preferimos pista a camarote, fumamos em boates só porque a achamos chata, preferimos boteco, tripa, cerveja gelada, barata e gente com cuca legal.
Não queremos muito da vida. Um drinque tá bom. E um prato de galinha guisada.
Tenho amiga irmã, amigo amante, amigas de infância, de faculdade, de birita, de B.Os., para todo o sempre, assim seja.
Não queremos fazer novos amigos, não somos bons nisso, eu percebo. Queremos apenas que o amor permaneça. E a gente permaneça. Jovens de alma, velhos amigos.

Obrigada a todos esses lunáticos que combinam comigo. Amo tanto vocês.